Er… Nove?

“Mas é sério”  ele diria dali a pouco, com uma bolsa de gelo encostada no queixo, enquanto eu preparava um café irlandês com dois irlandeses brigões pra que ele ao menos parasse de tremer um pouco “eu acho que matei aquele filho da puta nazista.”
A história é que ele havia visto um bando de skinheads cercando dois veados às cinco da manhã, nas proximidades do baixo Augusta. Ora, o Barbarossa não é herói, mas também não é cobarde. Ajustou sua cabeleira Elton John e foi tirar satisfações sobre o que é que “vocês, seus cornos-portadores-da-cruz-gamada-do-apocalipse-alemão-filhos-da-puta” queriam com dois irmãos “viajantes bim-bim-do-arco-íris-iridiscente-de-santa-hildegard-de-bingen” que, aliás, estavam acuados e de costas para um muro.
O ruído acordara Carol que chegava à cozinha pra ouvir a história.
“E o que seguiu” ele contou “foi um verdadeiro bordel, em que ninguém mais sabia de quem era a porra da perna de quem, ou de onde vinha a corrente que girava ou qual era o número da bota que esmagou qual rosto ou, como muito bem disse Churchill, quais eram as bolas que estavam sendo arrancadas numa profusão de sangue, suor e lágrimas.”
Barbarossa. Barbarossa é um intelectual.
Eu tinha certeza que Churchill jamais dissera aquilo, ou, se disse, o fez em uma ocasião muito privada, a algum jornalista inglês circunspecto que se deu ao trabalho de filtrar a crueza da expressão.
“Juro-por-deus. Se ele não tivesse fingido ter uma arma debaixo da camisa e se a camisa não fosse um modelo baby-look ridículo que escapou revelando que a arma na verdade era um tubo de desodorante eu não teria ficado tão enlouquecido.”
Carol pegou um pouco do café irlandês e bebeu e reclamou que havia muito álcool ali, e que era sábado de manhã, e todas essas coisas que a gente espera ouvir de uma boa moça decente de uma família religiosa e tradicional da cidade de Araras, no interior de São Paulo.

———— é, continua.